Metoludi

Qual o legado de um professor?

Para responder a essa pergunta do título, lhe convido inicialmente a imaginar uma escola ou universidade sem professores. Agora lhe faço uma nova pergunta:

O que mais lhe faria falta em uma escola/universidade sem professores?

Todos nós já fomos impactados de alguma maneira por algum profissional de educação. Na semana que comemoramos o Dia dos Professores, quero refletir sobre o legado que esses mestres deixaram em nós e discutir caminhos possíveis para o futuro desta profissão.

>>> Caso você tenha se perguntado se existe a possibilidade de alguma escola ou universidade extinguir o papel do professor, lhe apresento dois modelos reais e em curso.

Universidade 42, criada em Paris, em 2013, por Xavier Niel, um empresário e milionário do setor de tecnologia e hoje também possui sede no Vale do Silício, formando profissionais para diversas empresas, como o Facebook e Microsoft. Os estudantes trabalham lado a lado de forma colaborativa resolvendo desafios de tecnologia como a criação de um site ou um jogo. Para Niel, “o aprendizado colaborativo faz os estudantes desenvolverem a confiança necessária para buscar soluções de forma autônoma, com métodos criativos e engenhosos“.

Perceba que o modelo da Universidade 42 serve para o ensino de códigos, não é uma matriz para todas as áreas do conhecimento. Defender o método colaborativo é algo que inúmeras escolas/universidades de todo mundo, inclusive no Brasil, estão trabalhando. Mas retirar a figura do professor deste contexto, poderá prejudicar o aprendizado de fato.

Dan Butin, reitor da escola de educação e política social do Merrimack College de Massachusetts, nos EUA defende que “A razão decisiva para a existência de um professor é orientar os estudantes no enfrentamento de assuntos complexos, ambíguos e que geralmente escapam à sua capacidade de entendimento“, acredita.

A fala de Butin credita ao professor o papel de bússola no aprendizado, um mentor capaz de dirigir o conhecimento junto com o aluno.

Já na Finlandia, um modelo que vem ganhando renome internacional está ligado não a ausência de professores, mas na substituição por mentores. Ligada à Universidade Tampere de Ciências Aplicadas, a Proakatemia é um local onde os estudantes promovem seus produtos como jovens empreendedores, além de aprender uns com os outros.

O modelo de aprendizado segue a filosofia da aprendizagem baseada em equipes, ou Team Based Learning (TBL). Dessa forma, a aprendizagem ativa e, por consequência, o protagonismo estudantil acontecem devido a uma combinação importante de dois elementos-chave: liberdade e responsabilidade.

Apesar de não haver professores, a Proakatemia tem mentores, função ocupada na maioria dos casos por empresários com formação acadêmica. Sua atuação busca facilitar a aprendizagem dos estudantes, avaliando o desenvolvimento de cada um durante as sessões de treinamento guiadas em círculos, questionando, provocando e estimulando esses jovens aprendizes. (fonte)

O papel destes mentores é tirar os estudantes de suas zonas de conforto, sem deixar de fornecer o apoio necessário ao seu desenvolvimento.

Perceba que nos dois modelos, o principal contexto está em tornar o aluno protagonista e essa dimensão já vem sendo trabalhada em escolas e universidades pelo mundo todo. Minha maior preocupação em iniciativas radicais como essas duas está na forma como este conhecimento é repassado e avaliado, na didática destes profissionais mentores e no quanto isso formará muito além de bases técnicas.

Sabemos que a figura tradicional do professor está com os dias contados e que este precisa se transformar, mas não deixar de existir. Nesse nosso mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, a figura do professor vem se transformando de fato e a pandemia só acelerou esse processo de mudança.

Mas para entender qual a herança de um professor na atualidade, ou até mesmo, qual a falta que este faz na sociedade, fiz uma pergunta para meus contatos no Instagram, questionando qual o maior legado que seus professores deixaram para eles.

Organizei as respostas e somei com alguns pensamentos meus sobre essa profissão na qual atuo há quase 12 anos, para chegar em cinco pontos nessa discussão:

1. O PROFESSOR GERA REFLEXÃO

O professor irá sempre instigar o aluno na busca de novas soluções por meio de desafios e questionamentos. Em suas práticas, o profissional planta no aluno a semente da dúvida, possibilitando um caráter crítico e questionador.

“A dúvida é o preço da pureza” (Jean Paul Sartre)

Sartre trata a dúvida como algo puro, pois é a essência da curiosidade. Um professor que consegue fomentar a curiosidade em seus alunos, formará um profissional inconformado e mais aberto a receber a diversidade que o mundo lhe apresenta.

2. O PROFESSOR INSPIRA

O professor motiva o aluno a ser melhor e pode, por meio de suas histórias, práticas e narrativas, inspirá-los.

Pense em um professor que lhe inspirou? Possivelmente alguns nomes vieram a sua cabeça. Alguém, que com brilho nos olhos e paixão por ensinar, lhe abriu caminhos e horizontes sobre uma nova profissão, uma nova oportunidade, um novo olhar.

Ninguém segura um professor apaixonado por sua profissão, pois este carrega consigo não apenas o conhecimento, mas o olhar de futuro do quanto este, pode gerar transformação nas mãos de seus alunos.

3. O PROFESSOR PROMOVE A SUPERAÇÃO

As teorias, práticas e desafios que o professor propões em sala de aula farão com que seus alunos se tornem melhores e se superem a cada lição.

Nos tempos atuais, o professor é uma grande bússola que indica o caminho, um mentor para se chegar ao conhecimento, fazendo com que seu aluno se transforme e se supere. Diferente de um mapa, que trilha toda a rota, o professor dá possibilidades e questionamentos para que o aluno gere sua própria trilha ao destino.

4. O PROFESSOR É UM ETERNO APRENDIZ

O professor está sempre aprendendo e instiga para que seus alunos também não parem de aprender. Isso não significa estar na sala de aula até a velhice, mas entender que o aprendizado é algo contínuo na vida.

Aprendemos com uma receita nova, uma viagem, uma conversa com os amigos, ou instalando um móvel lendo o manual.

Agindo como um eterno aprendiz, o professor deixa claro o papel da humildade. Pois nos dias atuais, com as mudanças tecnológicas e todo acesso da informação, aquele professor que subia em um palco e era o único detentor do conhecimento, não tem mais espaço.

Quando o professor demonstra estar aberto a aprender, ele passa ao aluno essa virtude por meio de suas ações. Viva o lifelong learning!

5. O PROFESSOR GERA O DESPERTAR

O professor abre janelas e portas. Enquanto a inspiração está mais ligada a motivação intrínseca, o despertar está mais relacionado a dar voz e vez ao aluno.

O professor pode abrir caminhos que os alunos nunca imaginariam que fossem possíveis. Esse profissional é um pontífice, um construtor de pontes entre o aluno e seus futuros possíveis.

O professor coloca o aluno em movimento, tirando o aluno do estado de inércia e o fazendo agir, o fazendo adquirir força e energia para seguir. O professor provoca, acende a uma nova possibilidade por meio de todo conhecimento e desafios.

O PRINCIPAL LEGADO É HUMANO

Voltando ao questionamento do início do texto, de fato, o que eu mais sentiria falta em um mundo sem professores, talvez seria a transformação humana e inspiradora.

Perceba que o papel do professor não está apenas no conhecimento que ele transmite ao aluno, nas habilidades técnicas ensinadas, mas sim, no apoio e direcionamento.

O conhecimento é um grande pano de fundo para algo muito maior. Para uma relação de convivência e crescimento. Para uma relação de construção de competências sociais, éticas e humanas.

O maior legado de um professor está na transformação humana e inspiradora que ele gera no aluno por meio da reflexão, da ação, da superação, do despertar e da humildade em nunca parar de aprender.

Em uma sociedade que pouco valoriza o papel do professor, peço para que aproveite essa oportunidade de celebração e demonstre sua gratidão para todos aqueles que te fizeram refletir, se inspirar, te fizeram ser melhores, te fizeram despertar para novos caminhos e incentivaram a nunca parar de estudar e de seguir adiante.

Convido você a fazer o download do e-book Câmera fechada, coração aberto, que escrevi no ano passado, aprofundando ainda mais esse tema, no olho do furacão da pandemia que ainda estamos vivendo.

Até a próxima!

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