Metoludi

Antes de aplicarmos inovação, precisamos entender sobre cultura

Fonte: unsplash.com

Estamos cercados por uma onda de empresas, startups e instituições que tem a inovação como o propósito maior para seu negócio, para transformação do mundo, e para causas que muitas nunca conseguirão alcançar.

Na década de 1990, a onda nas empresas era a Qualidade com todas as certificações ISO 9000. Quem não possuía o selo, não tinha qualidade. No início dos anos 2000, vivemos uma onda onde a maioria das empresas se dizia Sustentável, com selos ISO 14000 e outras validações como carbono zero.

Por conta da Revolução 4.0, das mudanças que esse mundo V.U.C.A. vem trazendo, da quantidade de oferta que o mercado possui, todos querem ser inovadores. Mas vejo que muitos tratam a inovação como um argumento de venda, não uma prática diária em sua rotina.

Para que isso se torne uma prática, um hábito dentro do negócio precisamos falar sobre Cultura de Inovação e principalmente, conhecer o que forma essa cultura na qual a inovação realmente fará a diferença.

Uma vez ouvi que cultura é tudo aquilo que aprendemos de nossos pais.

A frase faz total sentido, pois esses hábitos, valores e crenças que herdamos de nossos familiares e grupos sociais, são formados de códigos que levamos para vida. Perceba o simples gesto de “vitória” ou “curtir” que você faz com a mão quando vê alguém, ou manda como emoji pelas redes sociais. É um dos milhares códigos que você repete no seu dia a dia.

O conjunto de códigos formam a cultura de um grupo e constroem valores e atitudes dentro de uma sociedade, uma corporação, um lar. Para que essa cultura se perpetue, vivemos em uma sociedade de ritos.

Praticamos constantemente pequenos rituais na nossa rotina que são diferentes de outras culturas. A forma como tomamos café, a festa de debutante (ainda existe?), a cerimônia de casamento ou formatura, os modelos empresariais e de ensino. A nossa vida é feita por códigos e significados mantidos diariamente pela sociedade.

Não existe uma cultura certa ou errada, existe culturas. Cada uma com seus valores e códigos, aceitos e repetidos por seu povo.

Entender esses significados é o primeiro passo para analisarmos as mudanças que a inovação pode causar. Quando um jovem casal está em início de namoro, geralmente esses compram uma aliança de compromisso. Esse anel prateado é colocado na mão direita para simbolizar afeto, amor, respeito e fidelidade pelo outro. Só nesse ato, temos uma carga gigante de significados.

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Agora imagine que esse jovem casal resolva inovar. Ambos decidem colocar no dedo anelar uma pequena fita verde, pois para eles, o verde representa esperança, comprometimento, além de ser a cor preferida do casal. Ou como nessa foto, decidem tatuar seus dedos anelares. Eles estão errados em fazer isso? Não, nem um pouco.

Quando duas pessoas aceitam um código, temos uma cultura. Por menor que ela seja, ouve uma aceitação e um entendimento do código pelas pessoas que o usarão.

Mas o que irá acontecer no círculo social desse jovem casal, nos outros círculos culturais que eles vivem? Risadas, chacota, estranheza, ou seja, o preconceito de muitos que estão catequizados que o único código possível é o anel de prata. Isso nada mais é do que o ruído entre o código e o receptor da mensagem. Um ruído causado pelo não entendimento desse novo código, dessa nova atitude gera o preconceito.

É o mesmo quando alguém escuta um morador de Porto Alegre (RS) pedindo um cacetinho na padaria. Esse termo referencia ao pão nos outros estados. Ridicularizá-lo ou criar piadas sobre é ser preconceituoso com o código cultural que não é o seu. Agora amplifique isso para futebol, política, religião, países de outros continentes… precisamos ser mais tolerantes a cultura do outro.

O novo sempre irá gerar estranheza, irá gerar questionamento e dúvida, pois ele tira todos da zona de conforto. Geralmente temos medo do que não conhecemos.

Quando o Whattsapp entrou no mercado, me lembro de muitos se perguntarem: Mas eu pago pra ligar por aqui? O que farei com minha operadora? O que isso vai me agregar? Você mesmo deve ter feito alguma dessas perguntas.

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A inovação, seja ela tecnológica, de negócio ou social, irá gerar mudanças de valores, códigos, crenças e hábitos em um grupo que precisa enxergar significado nela. Caso isso não ocorra, o proposto será apenas uma simples invenção.

Mudar uma cultura não é tarefa fácil, pois o processo de aceitação a uma nova rotina pode demorar muito.

Em culturas organizacionais, todos precisam ter entendimento dos novos modelos, todos precisam entender sobre os novos códigos propostos para que de fato, a inovação gere valor.

E o valor que trato aqui não é apenas o monetário, mas é o valor de significado.

Quem recebe a informação do novo, precisa entender esse código e aceitá-lo como algo valoroso para ele.

A principal diferença de invenção com inovação está no quanto aquele invento gera valor dentro de uma cultura. Se as pessoas não aceitam aquele produto, serviço ou processo, será apenas um novo invento. Entretanto, se isso condiciona a uma mudança de hábitos e atitudes, estamos sim, falando de inovação.

Em uma reunião com um cliente anos atrás, ele afirmou “inovação é tudo que lhe trás lucro”. A percepção deste empresário não está errada, mas o que ele abordou foi apenas a ponta do resultado que a inovação pode trazer.

Antes de trazer lucro para empresa, precisa gerar valor e significado para as pessoas envolvidas com essa inovação (colaboradores, compradores, consumidores finais, ou seja, seus stakeholders). Para isso, as pessoas precisam estar no centro da inovação.

Se inovação é a exploração de novas ideias que encontram aceitação no mercado, usualmente incorporando novas tecnologias, processos, design e uma melhor prática, ela só fará sentido se for entendida. 

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Defendo muito que a inovação só existe em ambientes plurais e com diversidade de gênero, credo, idade, raça, gostos…. A pluralidade e a diversidade potencializa a inovação pelo simples fato de unir novos códigos, fazer com que as pessoas saiam da zona de conforto e ampliem suas lentes para o novo.

Ouvimos muito o discurso de inovação apenas ligado a tecnologia, mas pouco ligado as pessoas. Sem as pessoas, não existirá a aceitação dos código e o que você terá em mãos é apenas uma ideia pseudo-inovadora, que não se aplicará de fato.

Venho participando de alguns ecossistemas de inovação e um deles é relacionado a educação, onde facilitei o redesenho das grades dos cursos de Design, Publicidade e Jornalismo da instituição de ensino que trabalho. Para que de fato aplicássemos inovação, chamamos vários stakeholders como professores, acadêmicos, egressos, profissionais do mercado e comunidade para pensar juntos de forma cocriativa. Ideias muito criativas só surgiram pois estávamos abertos a discussão coletiva.

Se abrir a inovação é se abrir a outros olhares, outros códigos para que com isso, possamos relacionar aspectos que ainda não foram vistos dentro da nossa cultura.

Se você está muito ligado com inovação dentro da sua empresa, vá para rua, converse com as pessoas, entenda necessidades, conheça novos hábitos e novas culturas. Saia inicialmente da sua bolha para entender quantas outras existem dispostas a expandir e a mudar.

Se preocupe também em definir quem serão os formadores de opinião. Geralmente esses serão capilarizadores e influenciadores dessa nova cultura. Se uma empresa cerâmica decide inovar em formato, os dois principais formadores de opinião serão arquiteto e pedreiro (assentador), pois se estes não comprarem a ideia, será muito difícil que a mesma ganhe força pelo consumidor final.

Pra fechar, deixo alguns questionamentos:

O quanto a inovação proposta está impactando de fato na vida das pessoas? O quanto a inovação está gerando valor para empresa e para os envolvidos com essa prática? O quanto os stakeholders estão de fato enxergando significado n oque está sendo proposto?

Entenda mais sobre pessoas, sobre significados e sobre cultura para assim poder aplicar a inovação necessária para seu negócio.

Até a próxima!

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